terça-feira, junho 21, 2011

EMBATE ENTRE IMPERADORES


Alexandre, O grande, monarca da Grécia e conquistador do mundo, nasceu em Péla, capital da Macedônia, em 365 a.C, e depois de instruído por Aristóteles em todos os ramos dos conhecimentos humanos serviu como regente quando seu pai, Felipe da Macedônia, marchou contra Bizâncio.
Não tinha ainda completado vinte anos quando subiu ao trono dois anos depois, em 334, atravessou o Helesponto com 30.000 infantes e 5.000 cavaleiros, obtendo a sua primeira grande vitória sobre os persas às margens do rio Granico; em conseqüência do que, a maioria das cidades da Ásia menor lhe abriram as portas.
Ao regressar da Armênia, armou Alexandre acampamento nas margens do rio Astuco, ameaçando ainda mais a posição de Dario ¹ . Este escreveu-lhe então diretamente a seguinte carta: 


“Desta capital dos reis da terra: enquanto o sol brilhar sobre a cabeça de Iskander Alexandre, o salteador,  saiba ele que o Rei dos Céus me outorgou o domínio da Terra, e que o Todo-Poderoso  me concedeu os quatro quartos da superfície dela. Distingui-me outrossim a Providencia com a dignidade, a majestade e a gloria, e com um sem conto de campeões e confederados.
Chegou ao nosso conhecimento que reunistes uma corja de ladrões e réprobos, a multidão dos quais a tal ponto vos escaldou a imaginação que vos propusestes com a ajuda deles disputar a a coroa e o trono, devastar o nosso reino e destruir o nosso país e o nosso povo.
Tais resoluções são, em sua crueldade, perfeitamente consistentes com a fatuidade dos homens de Room². Mas, é melhor para o vosso bem que, ao lerdes estas linhas regresseis imediatamente do lugar ate onde chegastes. Quanto ao vosso movimento criminoso, não tenhais receio da nossa majestade e punição, pois não entrastes ainda para o numero daqueles que nos merecem castigo ou vingança. Olhai bem! Mando- vos um cofre cheio de ouro e um burro carregado de sésamo no propósito de dar-vos uma idéia da extensão da minha riqueza e poderes.  Mando-vos também um chicote e uma bola: a ultima para que vos entretenhais com um brinquedo próprio da vossa idade; o primeiro para servir ao vosso castigo.”   

CONTEXTO : ao receber essa carta, ordenou Alexandre que fossem presos e executados os embaixadores que a tinham trazido. Mas estes lhe suplicaram misericórdia e foral atendidos. Regressaram para seu país levando a seguinte resposta de Alexandre a Dário:


“ De Zu-ul-Kurnain Alexandre aquele que pretende ser o rei dos reis; que se julga temido pelas próprias hostes celestes; e que se considera a luz de todos os habitantes do mundo! Como se pode então dignar tão alta pessoa de temer um inimigo tão desprezível como Iskander?
Não saberá Dario que o Senhor onipotente outorga poder e domínio a quem lhe apraz? E também que quando um fraco mortal se julga um Deus e vencedor das hostes celestes a indignação do Todo-poderoso lhe reduz a ruína o reino?  
Como pode um individuo destinado à morte e à decomposição ser um Deus, ele a quem lhe tomam o reino e que deixa para outros os prazeres deste mundo?
Olhai! Decidi travar batalha convosco e para isso marcho na direção de vossas terras. Confesso-me fraco e humilde servo de Deus, a quem ofereço as minhas preces pra que me conceda a vitoria e o triunfo, e a quem adoro.
Com a carta em que fizestes tamanho alarde de vossos poderes me enviastes um chicote, uma bola, um cofre cheio de ouro e um burro carregado de sésamo; tudo isso agradeço à boa fortuna e considero como sinais auspiciosos. O chicote significa que serei o instrumento do vosso castigo e me tornarei o vosso governador, preceptor e diretor. A bola indica que a superfície da terra e a circunferência do globo obedecerão aos lugar-tenente. O cofre de ouro, que é uma parte do vosso tesouro, denota que as vossas riquezas me serão transferidas muito breve. E quanto ao sésamo, embora os seus grãos sejam tão numerosos, todavia é macio ao tacto e de todos os gêneros de alimento o menos nocivo e desagradável.
Em retribuição vos envio um saco de mostarda para provardes e reconhecerdes o amargor da minha vitoria. E não obstante vos terdes exaltado com tamanha presunção, soberbo da grandeza do vosso reino e pretendendo ser uma divindade na Terra, ousando mesmo comparar-vos à majestade celeste, eu verdadeiramente é que sou vosso Senhor Supremo; e embora vos tenhais esforçado por me alarmar com a enumeração do vosso poder e dos vossos recursos em homens e armas, todavia confio na intervenção da divina providencia que hei de ver a vossa jactância reprovada por todo o gênero humano; e que na mesma proporção em que vos exaltastes vos humilhara o Senhor e me concedera a vitoria sobre vos. No Senhor esta a minha fé e a minha confiança. Adeus.”

BATALHA DE GARGAMELOS


CONTEXTO : Por causa da enfermidade de sua mãe, viu-se Alexandre compelido a voltar à Macedônia, mas logo que ela recobrou a saúde, continuou ele a sua marcha contra Dario na direção de Faristã. Coube a vitoria a Alexandre, e Dario fugiu para alem do Eufrates, e foi reunir um exercito ainda mais numeroso. Tentou negociar com Alexandre, oferecendo-lhe pela paz a metade de seu reino. Eis um trecho da resposta de Alexandre a Dario:


“(...) começais uma guerra e assim covardemente a levais avante, tentando assassinar aqueles que tremeis de encontrar no campo de batalha; testemunho disso são os mil talentos que oferecestes a quem quisesse ser o meu assassino, mesmo quando estáveis conduzindo contra mim um tamanho exercito. Por conseguinte a guerra em que estou atualmente empenhado é em minha própria defesa; e os deuses, dando triunfo às minhas armas e permitindo-me conquistar grande parte do vosso império, manifestaram a justiça da minha causa. Bati-vos no campo da luta; e embora não me sinta obrigado pela honra nem pela gratidão atender-vos no que quer que seja, todavia vos prometo, se vierdes a mim da maneira que exige a vossa condição, darei  liberdade a vossa esposa e a vossos filhos, mesmo sem nenhum penhor. Como conquistador levastes uma lição; vereis ainda como sei tratar com honra  aqueles a quem venço. Se no entanto duvidais de vossa segurança aqui, prometo-vos que tereis uma escolta pra vos guardar de qualquer atentado. Entrementes, toda vez que tiverdes ocasião de escrever a Alexandre, lembrai-vos de que vos dirigis a alguém que  não somente é rei, mas também o vosso rei.”
ALEXANDRE VISITA A FAMILIA DE DARIO III APOS A VITORIA


Moral da historia:  Finalmente em 21 de setembro de 331 a.C, aproveitando-se de um eclipse lunar, o exercito macedônico atravessou o Tigre, e de novo a Grécia e a Pérsia se defrontaram em Gaugamela. Mais uma vez a vitoria coube a Alexandre, e desta vez lhe trouxe, na idade de 25 anos, a supremacia indisputável sobre a maior parte do mundo então conhecido. Mais uma vez em fuga, Dario foi morto por um dos seus sátrapas.  Alexandre e o seu império viveriam por mais oito anos³.  



Notas:
1-      1-O correspondente de Alexandre nesta troca de cartas não é Dario, O Grande, que foi derrotado em Maratona em 491 a.C e que herdou o império persa de Ciro, e sim Dario III, conhecido como Codomano, o qual começou a reinar no mesmo ano que Alexandre ( 336 a.C)

2-      2-Significa Roma, isto é, a Europa

3-  3- Esses trechos de cartas foram retirados do livro As grandes cartas da historia, M.lincoln Schuster, Companhia Editora Nacional, edição de 1945 e com tradução de Manuel Bandeira  

Um comentário:

Unknown disse...

Ah, a vaidade humana!!!

Ela pode te elevar à divindade, e depois, em um ato de traição ao túmulo, antes mesmo de ter a oportunidade de olhar suas próprias conquistas!

Alexandre foi coroado um deus no Egito, mas morreu envenenado como um homem nas mãos dos traidores!