segunda-feira, junho 13, 2011

Guetos da globalização


Os grupos denominados skinheads foram conseqüência direta das crises econômicas e sociais sentidas pelo operariado em fins da década de 70 e 80, no exterior e no Brasil. Originários da Inglaterra, os filhos de operários “skin”, influenciaram varios movimentos no Brasil,  um exemplo o entitulado “carecas do subúrbio”. Declarando-se antiimperialistas e contra o grande poder da mídia, mas baseados na informação trazida de fora ( Inglaterra e outros) os “carecas” eram jovens trabalhadores de origem social baixa, incluindo negros, mulatos e ate alguns punks que circulavam em bandos pela zona leste paulista.

 É preciso esclarecer que skinhead ou carecas no Brasil é uma denominação generalizada, levando-se em conta a variedade de grupos existentes no país e suas peculiaridades; alguns xenofobistas, racistas e ate separatistas, e mesmo grupos com diretrizes menos reacionárias, mas ainda assim, fortemente apegados a ideologia nacionalista e a ação de afirmação violenta.
Seus protestos endereçados a perda de valores tradicionais – de família, cidade e nação - foram atribuídos a exploração capitalista. Com a globalização descaracterizando as culturas e identidades locais, o careca vai achar o sentido em pertencer a uma gangue. Fazer parte de uma gangue é o meio de se auto afirmar entre “iguais” e de sentir-se protegido e diferenciado no subúrbio, o seu território.
Para muitos grupos de carecas existe uma necessidade de se auto afirmar inato trabalhador, em possuir um corpo forte, apto as exigências do trabalho e violento se preciso uma ação em seu cotidiano. O culto desenfreado ao corpo caracteriza uma suposta superioridade em relação aos outros, e o uso de drogas é combatido internamente, pelo menos é o que publicamente afirmam.
São inevitáveis alguns questionamentos: a cultura de gueto - e suas gangues- supõe a ideologia de uma minoria marginalizada. Os grupos de carecas baseados em um forte nacionalismo não entendem outras minorias como parte de uma camada explorada da nação. Isto deve ser tratado com muita seriedade tendo em vista os inúmeros incidentes ocorridos com homossexuais, não só nas grandes cidades. Assassinatos e espancamentos, na sua maioria atribuída a grupos de carecas que ate se denominam antinazistas, mas que possuem a ação violenta a fim de atingir seus objetivos quase que de forma militar.


Outra característica deste conservadorismo se encontra na forte exaltação nacionalista, de tanto apreço aos carecas. Ao apoiar uma atitude de “amor à pátria”, através de seus símbolos ou bandeiras (ordem do progresso), o ufanismo careca em nada se diferencia da exaltação televisa da Globo, no que concerne a ignorância. As criticas endereçadas ao sistema são contraditórias, visto que a idealização do trabalho e o apego nacionalista durante tempos estiveram relacionados no Brasil com o bom desenvolvimento da maquina capitalista.   (1)


Uma  reportagem de capa da revista Isto È de 20/05/2009 mostrava um grupo de skinheads brasileiros com varias células e conexões com o exterior que haviam sido descobertos pela policia. A reportagem alarmava: “o nazismo é uma ideologia viva” e disperso pelo país. Seria prudente destacarmos as contradições ideológicas desses grupos. O nazismo e o fascismo enquanto ideologia pertencem ao inicio do século XX. Na historia nada se resgata. O que passou já era, vira mote de estudo para historiadores. Esses grupos que surgiram na década de 80 e que permanecem ativos no século XXI não são nazistas. São inspirados por tal ideologia e formulam outra, quase como uma colagem de idéias conservadoras, nacionalistas, sexistas quiçá bestiais. Sabe-se que existem grupos de carecas no Brasil integrados por negros e mestiços. Você consegue imaginar algo assim dentro das SS de Himmler ?? O correto é que tanto os alemães da década de 30 como os brasileiros são exemplos de povos mestiços. Cada povo com suas peculiaridades mas todos historicamente mestiços. Esses grupos de carecas (alguns deviam jogar somente War mesmo) são produto da globalização e a sua pretensa ideologia é uma colagem de tantas outras.



Sem finalizar o mote indico aos interessados o livro de Helena Salem   O neonazismo no Brasil e no mundo, Editora Atual . A pesquisadora faz um trabalho amplo e por isso seu livro é referencia no assunto. Peço licença educadamente a autora para citar o cineasta alemão Win Wenders (p.81) :
“muitos jovens não reconhecem mais seu próprio país. Saltaram, de repente, de um regime que parecia protege-los para uma fase de consumismo. E estão desempregados. Então, inclinam-se para o obvio, infelizmente. Repetem a historia: os que tem pouco atacando os que tem menos ainda. Eles não sabem o horror que os gritos de ‘Heil Hitler’ podem trazer. O muro continua existindo, só que agora é invisível.” 

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PS.1 = esse texto foi escrito em parceria com o amigo Rodrigo no século passado, idos de 99, em curso ainda a faculdade. Permanece atual e bem escrito.

Um comentário:

Tchelo disse...

Bem, o que posso dizer, além de que tudo o que é xenofóbico, homofóbico, não passa de uma visão distorcida de uma camada não pensante.
É público e notório que esses movimentos ocorrem muitas vezes com as crises do sistema capitalista: falta de empregos, a descrença no sistema escolar, entre outros fatores. Porém é muito fácil notar que os empregos ocipados pelas minorias são empregos que estes indivíduos não querem para si. Talvez por se acharem superiores para ocupa-los, talvez por que achem que o dinheiro que ganharão para realizar tal trabalho não é recompensador, no entanto, para imigrantes e minorias significa seu sustento.
É muito fácil culpabilizar o outro pelo próprio fracasso. Estes "suburbanos" tiveram todas as chances que o sistema dá a todos, e não estou falando somente de uma realidade nacional, mas nos voltemos para skinheads de outros países como EUA e Inglaterra. A xenofobia é enorme, assim como os ataques violentos contra o diferente.
O imigrante trabalhador construiu boa parte da economia dos grandes países, e por todos os lugares por ainda passam. O argumento usado pela maioria dos skins é que estes tiram seus empregos. Mas quem fará o trabalho que o imigrante faz? Vejam a situação estadunidense, quem fará o serviço hoje feito pela mão-de-obra latina?
Pouca instrução, truculência, falta de requisitos básicos na própria educação. É a mesma situação da juventude que passa por nossas escolas no momento sem aproveitamento, serão os skinheads do amanhã e culparão o outro e não a si próprios pelo aproveitamento de aportunidades em sua vida.