Os
grupos denominados skinheads foram conseqüência
direta das crises econômicas e sociais sentidas pelo operariado em fins da década
de 70 e 80, no exterior e no Brasil. Originários da Inglaterra, os filhos de operários
“skin”, influenciaram varios movimentos no Brasil, um exemplo o entitulado “carecas do subúrbio”. Declarando-se antiimperialistas e contra o
grande poder da mídia, mas baseados na informação trazida de fora ( Inglaterra e
outros) os “carecas” eram jovens
trabalhadores de origem social baixa, incluindo negros, mulatos e ate alguns
punks que circulavam em bandos pela zona leste paulista.
É
preciso esclarecer que skinhead ou carecas no Brasil é uma denominação
generalizada, levando-se em conta a variedade de grupos existentes no país e
suas peculiaridades; alguns xenofobistas, racistas e ate separatistas, e mesmo
grupos com diretrizes menos reacionárias, mas ainda assim, fortemente apegados
a ideologia nacionalista e a ação de afirmação violenta.
Seus
protestos endereçados a perda de valores tradicionais – de família, cidade e
nação - foram atribuídos a exploração capitalista. Com a globalização descaracterizando
as culturas e identidades locais, o careca
vai achar o sentido em pertencer a uma gangue. Fazer parte de uma gangue é o
meio de se auto afirmar entre “iguais” e de sentir-se protegido e diferenciado
no subúrbio, o seu território.
Para
muitos grupos de carecas existe uma
necessidade de se auto afirmar inato trabalhador, em possuir um corpo forte,
apto as exigências do trabalho e violento se preciso uma ação em seu cotidiano.
O culto desenfreado ao corpo caracteriza uma suposta superioridade em relação
aos outros, e o uso de drogas é combatido internamente, pelo menos é o que
publicamente afirmam.
São
inevitáveis alguns questionamentos: a cultura de gueto - e suas gangues- supõe a
ideologia de uma minoria marginalizada. Os grupos de carecas baseados em um forte nacionalismo não entendem outras
minorias como parte de uma camada explorada da nação. Isto deve ser tratado com
muita seriedade tendo em vista os inúmeros incidentes ocorridos com homossexuais,
não só nas grandes cidades. Assassinatos e espancamentos, na sua maioria atribuída
a grupos de carecas que ate se
denominam antinazistas, mas que
possuem a ação violenta a fim de atingir seus objetivos quase que de forma
militar.
Outra
característica deste conservadorismo se encontra na forte exaltação nacionalista,
de tanto apreço aos carecas. Ao apoiar
uma atitude de “amor à pátria”, através de seus símbolos ou bandeiras (ordem do
progresso), o ufanismo careca em nada
se diferencia da exaltação televisa da Globo, no que concerne a ignorância. As criticas
endereçadas ao sistema são contraditórias, visto que a idealização do
trabalho e o apego nacionalista durante tempos estiveram relacionados
no Brasil com o bom desenvolvimento da maquina capitalista. (1)
Uma
reportagem de capa da revista Isto È de
20/05/2009 mostrava um grupo de skinheads
brasileiros com varias células e conexões com o exterior que haviam sido
descobertos pela policia. A reportagem alarmava: “o nazismo é uma ideologia
viva” e disperso pelo país. Seria prudente destacarmos as contradições ideológicas
desses grupos. O nazismo e o fascismo enquanto ideologia pertencem ao inicio do
século XX. Na historia nada se resgata. O que passou já era, vira mote de
estudo para historiadores. Esses grupos que surgiram na década de 80 e que
permanecem ativos no século XXI não são nazistas. São inspirados por tal
ideologia e formulam outra, quase como uma colagem de idéias conservadoras,
nacionalistas, sexistas quiçá bestiais. Sabe-se que existem grupos de carecas
no Brasil integrados por negros e mestiços. Você consegue imaginar algo assim
dentro das SS de Himmler ?? O correto é que tanto os alemães da década de 30
como os brasileiros são exemplos de povos mestiços. Cada povo com suas
peculiaridades mas todos historicamente mestiços. Esses grupos de
carecas (alguns deviam jogar somente War mesmo) são produto da globalização e a
sua pretensa ideologia é uma colagem de tantas outras.
Sem
finalizar o mote indico aos interessados o livro de Helena Salem O
neonazismo no Brasil e no mundo, Editora Atual . A pesquisadora faz um trabalho
amplo e por isso seu livro é referencia no assunto. Peço licença educadamente a
autora para citar o cineasta alemão Win Wenders (p.81) :
“muitos jovens não reconhecem
mais seu próprio país. Saltaram, de repente, de um regime que parecia
protege-los para uma fase de consumismo. E estão desempregados. Então,
inclinam-se para o obvio, infelizmente. Repetem a historia: os que tem pouco
atacando os que tem menos ainda. Eles não sabem o horror que os gritos de ‘Heil
Hitler’ podem trazer. O muro continua existindo, só que agora é invisível.”
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PS.1 = esse texto
foi escrito em parceria com o amigo Rodrigo no século passado, idos de 99, em
curso ainda a faculdade. Permanece atual e bem escrito.
Um comentário:
Bem, o que posso dizer, além de que tudo o que é xenofóbico, homofóbico, não passa de uma visão distorcida de uma camada não pensante.
É público e notório que esses movimentos ocorrem muitas vezes com as crises do sistema capitalista: falta de empregos, a descrença no sistema escolar, entre outros fatores. Porém é muito fácil notar que os empregos ocipados pelas minorias são empregos que estes indivíduos não querem para si. Talvez por se acharem superiores para ocupa-los, talvez por que achem que o dinheiro que ganharão para realizar tal trabalho não é recompensador, no entanto, para imigrantes e minorias significa seu sustento.
É muito fácil culpabilizar o outro pelo próprio fracasso. Estes "suburbanos" tiveram todas as chances que o sistema dá a todos, e não estou falando somente de uma realidade nacional, mas nos voltemos para skinheads de outros países como EUA e Inglaterra. A xenofobia é enorme, assim como os ataques violentos contra o diferente.
O imigrante trabalhador construiu boa parte da economia dos grandes países, e por todos os lugares por ainda passam. O argumento usado pela maioria dos skins é que estes tiram seus empregos. Mas quem fará o trabalho que o imigrante faz? Vejam a situação estadunidense, quem fará o serviço hoje feito pela mão-de-obra latina?
Pouca instrução, truculência, falta de requisitos básicos na própria educação. É a mesma situação da juventude que passa por nossas escolas no momento sem aproveitamento, serão os skinheads do amanhã e culparão o outro e não a si próprios pelo aproveitamento de aportunidades em sua vida.
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